terça-feira, 20 de julho de 2010

Reflexão Critica Final

“É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”
Paulo Freire

É com esta célebre frase de Paulo Freire, que aqui pretendo deixar a minha reflexão final acerca da oficina de formação “Avaliação das Aprendizagens dos alunos: parte II – Avaliação Electrónica” que frequentei de 24 de Abril a 10 de Julho de 2010 e cuja formadora foi a professora Sandra Cardoso.

Começo esta breve reflexão por considerar que a parte I e II desta oficina tem contribuído para muitas alterações na minha prática lectiva mas, acima de tudo, tem contribuído para a existência de grandes momentos de reflexão e troca de opiniões. Momentos esses que caracterizo de uma completa abertura e liberdade de opinião.

Aqui pude realizar a minha introspecção, reflectir sobre esta temática tão vasta e complexa que é a avaliação dos alunos. Compreendi que tinha percepções erradas sobre o que é a avaliação e que estas se reflectiam na forma como avaliava os meus alunos. Claro está que estas percepções foram adquiridas de uma forma espontânea, incutidas por um modelo tradicional, limitativo e muito reduccionista do qual eu própria, em tempos, já fui vítima.

A educação tem sofrido várias mudanças e as escolas passaram a ter maior autonomia para a tomada de várias decisões, inclusive na questão da avaliação. Temos de compreender de uma vez por todas que a avaliação não serve para avaliar somente o aluno, mas também serve para avaliar o professor e sua prática pedagógica. Esse processo de mudança implica necessariamente uma nova forma de encarar o ensino, sobretudo por parte dos professores. Temos que debater-nos todos para que haja um ensino com qualidade e não uma mera soma de quantidades que se resumem em notas e aprovações ou reprovações. Temos que procurar além de tudo o prazer de dar uma aula e o aluno o prazer por estudar.

Considero que, hoje em dia, estamos muito preocupados em cumprir os programas e ter tempo para realizar dois testes por período onde poderemos, pensamos nós, verificar se os conteúdos foram de facto apreendidos pelos alunos. Desta forma, só logramos uma única coisa: fazer com que a avaliação não tenha objectivo tornando-se uma mera reprodução de conhecimentos transmitidos pelo professor.

É comum o professor ficar preocupado apenas em cumprir o programa, mesmo que os alunos não aprendam os conteúdos pois, desta forma, ninguém lhe poderá apontar no final do ano o seu incumprimento. Mas, o programa deveria estar ao serviço da aprendizagem e não ao contrário como quase sempre acontece.

Urge, portanto, repensarmos o que realmente importa neste processo: o cumprimento dos programas ou que os nossos alunos aprendam de uma forma verdadeiramente significativa? O que queremos quando "avaliamos"? Classificar em ordem de notas ou contar com mais um instrumento para ajudar cada aluno a aprender?

A avaliação deve ser, clara e objectiva, coerente com os conteúdos estudados e objectivos propostos. Para tal, devem ser aplicados instrumentos e técnicas diversificadas, para verificar os conhecimentos adquiridos, respeitando as capacidades de cada aluno.

Existem diversos recursos disponíveis para agregar o processo de avaliação. Idealmente, esse processo deve ser composto por mais de um desses instrumentos. Entre os instrumentos ao alcance do professor surgem aqueles com recurso às TIC: pesquisa orientada na Web (webquests e visitas virtuais); Google Docs; Plataforma Moodle: o chat, o fórum, e-portfólios; o Blog, entre outros. Mas quais são as potencialidades destes instrumentos para a avaliação dos nossos alunos? São, além do mais, motivadores, apelativos, diferentes …

A avaliação electrónica assume, desta feita, um papel importantíssimo nos dias que correm. Muitos dos instrumentos acima evocados apresentam-se como um meio de os alunos registarem as suas actividades, reflexões, os seus comentários sobre o modo como o trabalho que desenvolvem em grupo ou individualmente se processa. É uma forma privilegiada de os alunos descreverem e reflectirem sobre os problemas que vão surgindo, os obstáculos que decorrem do desenvolvimento do trabalho e da forma de os superar. O registo escrito permite criar o hábito de pensar as práticas, de se pensar a própria aprendizagem.

É preciso não esquecer que as avaliações feitas pelos alunos são expressões da síntese do conhecimento que atingiram. Se não chegarem a um nível satisfatório não devem ser punidos, mas sim “retrabalhados” e solicitados a que elaborem uma nova, mesmo que retomem a anterior como ponto de partida. Uma prática que considerei bastante interessante e que um colega (José Carlos) desta oficina partilhou connosco, é o professor interagir com o trabalho dos alunos até que chegue a um nível satisfatório: o aluno entrega a actividade, o professor analisa, faz sugestões e o aluno reelabora.

Torna-se, então, consensual a importância da autoavaliação. Ela está directamente ligada a um dos objectivos fundamentais da educação: aprender a aprender. É óbvio que o próprio aluno tem as melhores condições de dizer o que sabe e o que não sabe, se um determinado método de ensino foi ou não eficaz na sua aprendizagem e de que maneira ele acredita que pode compreender determinados conteúdos com mais facilidade. Para isso, basta ao professor, conversar com a turma, de forma sincera e directa, ou fazer questionários onde todos possam expor livremente as suas críticas e sugestões. Quanto mais frequentes forem essas conversas mais rapidamente aparecerão os problemas e, o que realmente importa, as respectivas soluções. Considero que este aspecto constituiu mais uma das mudanças na minha forma de encarar a avaliação. Compreendi que os momentos de autoavaliação, mais do que contribuírem para momentos de introspecção/reflexão por parte dos alunos, servem sobretudo para informar o professor se o seu trabalho está a ser claro para os alunos, ou deve ser revisto, mudando as suas atitudes e metodologias. Compreendi também que a autoavaliação não deve limitar-se a apenas alguns minutos no final de cada período lectivo, mas sim ser um acto contínuo e reflexivo que pode contribuir para grandes mudanças, quer para os alunos quer para o professor.

Outro aspecto que considero ser consensual entre os professores é que a aprendizagem, na sala de aula, não se dá de forma uniforme. Cada aluno tem o seu ritmo, as suas facilidades e dificuldades. O que dificulta bastante a acção do professor, que passa a ter de avaliar cada aluno de uma forma diferente, porque “… todos merecem ser avaliados em relação a si mesmos, não na comparação com os colegas" (Antoni Zabala). A avaliação, mais que um conjunto de técnicas, é um conjunto de atitudes que permitem valorizar as potencialidades de cada um (Cortesão). É preciso que a avaliação sirva para que todos possam ter experiências de sucesso, para orientar sobre as dificuldades, os pontos positivos e as necessidades de cada um. Não só para comparar os alunos entre si de acordo com um critério único ou básico, criando competição, inveja e frustração, mas para auxiliar cada um a evoluir em relação a si mesmo indo de encontro ao seu potencial. No fundo sou da opinião de que, os pontos de partida dos alunos no inicio do ano lectivo são diversos, mas os de chegada devem ser os mesmos, ou pelo menos, o professor devem dar o melhor de si para que tal aconteça. Torna-se, portanto, premente a adopção de estratégias de diferenciação pedagógica por forma a caminharmos cada vez mais para uma Escola Inclusiva.



Entenda-se que a inclusão, ao contrário do que frequentemente se defende, não é atender às deficiências de um aluno com necessidades educativas especiais, mas sim conseguir atender à diversidade dentro da sala de aula. Segundo Aranha, 2004: “Escola inclusiva é, aquela que garante a qualidade de ensino educacional a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades”.

Concluindo, avaliação, para ser avaliação, necessita de ser diagnóstica, formativa, dialógica, dialética, etc… O acto de avaliar, em síntese, é uma acto dinâmico ao serviço dos melhores resultados possíveis.
Baseado em Ander-Egg (1997), Ferreira e Santos (2000) e outros, cito abaixo alguns tipos de avaliação:
A avaliação diagnóstica, primeira tentativa bem sucedida a se contrapor à avaliação classificatória, traz contribuições marcantes, como ideia de diagnóstico, avaliação como decisão e o compromisso político de avaliação democrática.

A avaliação mediadora é uma sistematização verdadeiramente construtivista: é uma dinamização das oportunidades de acção-reflexão, um acompanhamento permanente do professor, uma prática para desafiar o aluno e uma forma de compreender suas dificuldades e o seu processo de cognição. Seu objectivo é promover a construção e a organização do conhecimento. Assume seu verdadeiro papel quando trata dos erros, tomando-os como meio de construção dos conhecimentos e não como faltas graves a condenar.

A avaliação dialógica possibilita identificar as respostas verdadeiras e as não-verdadeiras. É o diálogo (fundamentalmente interacção do sujeito com o mundo) que assegura o carácter aberto do construtivismo, bem como a sua dialéctica. A avaliação dialógica subsidia tanto a avaliação diagnóstica como a mediadora e está destinada a marcar uma mudança na educação, juntamente com o próprio construtivismo.

Em conclusão, considero que nesta caminhada descobri que quanto mais eu exijo de mim mesma, talvez não seja exagero como a maior parte das pessoas que convivem comigo pensam, significa que posso fazer sempre mais e dar o melhor de mim. Se, por um lado, devemos conhecer bem nossos limites para não nos excedermos, também devemos conhecê-los para que saibamos aproveitar o melhor de nós mesmos.

Esta oficina possibilitou-me ter uma nova visão acerca desta temática e, hoje em dia, posso dizer que consegui detectar as minhas faltas e encetar um novo rumo a caminho da sua correcção. Presentemente, como já referi, já realizo uma avaliação mais formativa que poderia, no entanto, ser ainda mais dialogada.

Acerca da avaliação electrónica, pude constatar que se revela eficaz e pode dar um forte contributo para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, pois permite auxiliar os alunos com mais dificuldades, incutindo-lhes maior autonomia, criatividade e espírito crítico. Pude também concluir pelos instrumentos que implementei na sala de aula, que os alunos se encontram pouco habituados a esta forma de avaliação criando-se, por vezes, uma certa resistência a esta nova metodologia. Por outro lado, verifiquei que na maioria dos casos, recorrendo a esta modalidade de avaliação, os alunos mais desmotivados e desinteressados acabam por se envolver no trabalho evidenciando e desenvolvendo outras competências que até aí não o tinham feito, ou pelo menos, passaram desapercebidas aos olhos do professor.

E os professores, qual o partido que tiram do recurso à avaliação electrónica? Eu pessoalmente, considero que aprendi muito no desenvolvimento dos instrumentos que posteriormente implementei. Em primeiro lugar, aquando da sua construção, tive a preocupação de planificá-lo delineando quais os objectivos que pretendia alcançar, bem como as competências que pretendia desenvolver nos meus alunos, pois se assim não fosse, de nada serviria o instrumento. Tive também a preocupação de que fosse estimulante para os alunos, seleccionando todos os recursos na perspectiva dos seus interesses, o que considero ter alcançado. Após a sua implementação reflecti e auscultei os alunos no sentido de apurar dificuldades para proceder a eventuais reformulações.

A avaliação electrónica faz sentido, possui inúmeras vantagens, contudo não podemos esquecer que deverá sempre debruçar-se numa avaliação o mais dialógica possível, ou seja, integrar-se numa pedagogia não centrada no professor, mas sim no aluno, onde este constrói a sua própria aprendizagem.

Em Conclusão, considero que os estudos sobre avaliação escolar nunca se esgotam, mas percebe-se a necessidade de que antes de qualquer mudança no processo avaliativo é necessário que haja uma mudança de postura de todos os envolvidos na educação dos alunos, a começar pelos próprios professores. Daí que esta oficina, quer na parte I quer na parte II, abriu-me muitas portas em direcção à mudança. No entanto, considero que ainda não atingi o estado desejável. Como referiu a nossa formadora, “O professor parte de um estado de incompetência inconsciente”, eu considero que me encontro já num estádio mais avançado, porventura o da “competência consciente”, sendo portanto necessário caminhar até ao último estádio o da “competência insconsciente”, onde é suposto que tudo o que o professor faz, o faça inatamente.
Agradeço, desde já à formadora Sandra Cardoso, a partilha dos seus conhecimentos, a transmissão das suas experiências e a paciência. A partir do primeiro dia foi essencial e muito importante o seu papel, sempre disponível e atenta às nossas dúvidas e receios.

No decorrer desta oficina de formação construímos um bom grupo de trabalho, que conseguiu cooperar e partilhar saberes de uma forma bastante eficaz e interactiva. Olhámos para dentro de nós e partilhámos o que sabíamos e poderíamos fazer de melhor.

A acção correspondeu e excedeu mesmo as minhas expectativas! Neste momento, estou entusiasmada com todos os projectos que tenciono pôr em prática. Aprendi imenso e sinto-me à vontade para avançar. Reconheço que continuo ainda com algumas dificuldades ao nível da criação de um site onde possa alojar os recursos construídos. Quem sabe esta lacuna possa ser colmatada com uma parte III desta oficina?

As sementes estão lançadas, basta acreditar e trabalhar naquilo que todas nós partilhámos.

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